Os desafios e as escolhas da Europa até 2030

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Foto de Tom Grimbert via Unsplash

Os desafios e as escolhas da Europa até 2030

A democracia precisa de quem pare para pensar.

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Um dos aspectos que não poderia ficar de fora da estratégia dos próximos anos são as alterações climáticas.

Foi lançado, no início do mês, o documento Global Trends to 2030: Challenges and Choices for Europe, cujo objectivo é traçar uma previsão sobre o estado da Europa daqui a 11 anos. O documento apoiou-se no conceito de mega-trends, “tendências que ocorrem em larga escala e afectam grandes grupos de humanos, estados, regiões e, em muitos casos, o mundo inteiro”, para traçar um cenário sobre o futuro. Alterações climáticas, populismo e economia foram alguns dos temas considerados e em destaque.

Ambiente vs. Demografia

Um dos aspectos que não poderia ficar de fora da estratégia dos próximos anos são as alterações climáticas. Estima-se que, até 2030, “o mundo estará 1,5 graus mais quente do que nos tempos pré-industriais”, temperatura máxima que o planeta conseguirá tolerar sem catástrofes de maior. Se após esse ano as temperaturas continuarem a subir, o planeta estará sujeito a grandes secas, inundações, calor extremo e outros problemas ambientais. O aumento da urbanização até então é um dos factores preocupante, com as concentrações nos grandes centros urbanos a ser mais uma variável a considerar no caminho para a sustentabilidade.

Foto de Robert Katzkio via Unsplash

Em relação ao crescimento populacional, também se estimam novos recordes até 2030. “Um olhar para o passado mostra-nos que a demografia tem sido uma fonte de ansiedade desde os anos 70, quando a chamada ‘explosão populacional’ deu origem à ideia de uma fome inevitável”, como se lê no documento. Crê-se agora que o número de pessoas no mundo em 2030 seja 8,6 mil milhões, mais mil milhões do que na actualidade.

Em termos etários, na Europa, prevê-se que, em 2030, 25,5% da população tenha mais de 65 anos, o que poderá trazer consequências a nível económico e social. A força de trabalho diminuirá na Europa, à mesma medida os líderes terão de encontrar formas de combater o envelhecimento demográfico nos próximos dez anos. As despesas na saúde com os mais velhos também crescerão e é provável que a economia se torne menos intensiva como reflexo de tudo isto.

Um mundo conectado por tecnologia e política

Por outro lado, com o melhoramento das condições de aprendizagem e a modernização tecnológica que estimula a conectividade, prevê-se que se diminuam os níveis de analfabetismo e se aumente a pluralidade do espaço público. Estima-se que, em 2030, 90% da população mundial saiba ler e escrever. A expansão da tecnologia tem sido uma prioridade dos líderes políticos e espera-se que se traduza num mundo mais plural. A inteligência artificial associada às novas tecnologias é um dos planos do futuro que também podem facilitar a vida dos cidadãos em alguns serviços; mas tanto este conceito específico (IA) como a conectividade têm o seu revés.

A conectividade  junta pessoas e elimina fronteiras criando novos desafios para o estado. Por um lado, “o tráfego, a gestão de resíduos, o transporte e até o crime podem ser melhor resolvidos através da conexão à Internet” ao mesmo tempo que se tenta combater as consequências negativas das novas tecnologias.

Foto de Filip Mishevski via Unsplash

“Como a informação viaja muito mais rapidamente, as reacções a certas questões políticas serão mais intensas e concentradas” no futuro. Assiste-se agora a uma rápida proliferação de fake news e notícias extrapoladas para fora do contexto, uma tendência em momento crescente. Assim, esse será um dos maiores desafios para os líderes políticos que terão menos tempo para resolver conflitos e responder às exigências dos internautas.

Com as tecnologias a darem voz aos cidadãos, a ligação entre a conectividade e a política internacional torna o ciberespaço num campo de batalha. A internet exige neste momento um grande poder de resposta das instituições ao poder político. Acredita-se que “a principal característica do mundo de 2030 será sua natureza conectada – definindo tudo, incluindo a geopolítica”, num ambiente mediado por algoritmos o relatório aponta que o populismo pode ser uma das consequências.

O populismo da aldeia global

Com a estreita ligação entre a tecnologia e a política, o poder pode ser determinado pela sua capacidade de lidar com as novas tecnologias, “uma área onde os Estados Unidos e a China estão na liderança, e a Europa está atrasada”.

O enfraquecimento das fronteiras e a aldeia global que tem sido construída ao longo dos últimos anos de inovação podem levar os cidadãos a intensificar sentimentos nacionalistas pela “percepção de perda de importância global” do seu país. Os movimentos populistas aumentam à medida que o mundo se globaliza.

O estudo vai mais longe e refere que “o populismo não é apenas um movimento, é também um estilo político, baseado numa linguagem emocional para enfatizar a urgência das suas demandas e a sua proximidade com as pessoas” – a mesma linguagem que faz sucesso em redes hiper-conectadas como a internet.

Foto de Chris Lawton via Unsplash

Algumas das medidas para travar o populismo político podem passar, segundo o relatório, por alterações estruturais da organização social como “o fortalecimento de um imposto sobre heranças para mitigar a acumulação de riqueza, incentivos fiscais para que os trabalhadores invistam em acções, aumentar as medidas contra a fraude e evasão fiscal e limitar os salários”; numa sociedade responsável, em que os diferentes poderes são operantes e célebres, estes fenómenos tendem a ter menos argumentos para exaltar a população.

Até 2030…

Ao longo do documento são apresentadas várias temáticas ao nível da saúde, energia, política, economia e migrações. Se este cenário for levado a sério, então os Estados devem tomar medidas que visem: o impedimento do aumento da temperatura; fomentem utilização de energia limpa e a redução da importação de petróleo; o incentivo à prática de exercício físico dos cidadãos, melhorando a qualidade de vida e do ambiente; a tomada de medidas em relação aos fogos florestais, diminuindo o seu impacto na saúde; a conversão da automatização numa vantagem económica e a utilização da inteligência artificial para melhorar a vida dos cidadãos.

A tudo isto, junta-se a cooperação entre Estados e o respeito pela democracia e pelas suas diversas instituições e instrumentos: desde o sistema eleitoral ao sistema judicial.

O Global Trends to 2030: Challenges and Choices for Europe foi redigido pelo Sistema Europeu de Estratégia e Análise de Políticas (ESPAS, em inglês), que trabalha, de forma voluntária, entre os vários órgãos da União Europeia para analisar as tendências a médio e longo prazo.

Índice

  • Gabriel Ribeiro

    Licenciado em Ciências da Comunicação e sempre com a câmara na mochila. Acredito que todos os locais e pessoas têm “aquela” história. Impulsionador da cultura portuguesa a tempo inteiro.

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