Não nos chega um mês de reflexão para preparar as eleições legislativas

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Reflexão sobre Eleições Legislativas

Não nos chega um mês de reflexão para preparar as eleições legislativas

Com o aproximar iminente das Eleições Legislativas, no Shifter não faremos uma cobertura exaustiva das eleições, mas vamos usá-las como pretexto para tentar conhecer um pouco melhor o tecido social português, as suas particularidades e peculiaridades.

A pouco mais de um mês das eleições legislativas, na reentré do ano, arrancam as campanhas eleitorais e as maratonas de debates televisivos dedicadas, quase na sua generalidade, a ouvir os líderes dos partidos com assento parlamentar apresentar algumas das suas ideias enquanto rebatem a do oponente circunstancial. Os debates multiplicam-se numa espécie de todos contra todos, dividem-se por todos os canais e a estes somam-se horas de comentário sobre o que cada um disse, poderia ter dito, como disse ou não deveria ter dito.

No horizonte está uma eleição com um vencedor maioritário antecipável mas pouco explicado, a abstenção. Mesmo à nossa frente desfilam diariamente candidatos quase todos eles com caras e percursos bastante conhecidos do povo português; na sua maioria repetentes em eleições legislativas; o aspecto do panorama mediático português repete-se a cada quatro anos, torna as eleições num je ne sais quoi previsível e, por isso, cada vez desinteressante.

Serão mais de 20 os partidos a eleição no próximo dia 6 de Outubro mas apenas 6 os que tiveram assento na legislatura passada; curiosamente são esses, que tiveram toda a legislatura para se fazer ouvir, os que mais atenção merecem dos órgãos de comunicação social, partindo na pole position para as eleições que seguem — como se pertencer ao sistema fosse um critério de relevância per se. Neste particular, é sintomático o calendário de debates que relega para último, dia 30, uma mesa redonda entre os partidos sem assento.

Na prática, os debates transformam-se em lutas de popularidade e apesar da eleição ser para uma assembleia e cada voto contar para a eleição de deputados, os partidos orbitam em torno dos seus líderes que mantêm uma postura quase presidencial. O tom que desta orquestração resulta é de tal forma calculado — e calculista —, que afasta aqueles que não o compreendem na totalidade e acabam por se sentir permanentemente persuadidos ou enganados pelos políticos que estreiam ou reciclam ideias de 4 em 4 anos.

Esta prática democrática letárgica, pouco dinâmica, não é alheia ao tecido social em que cresce. Num ambiente mediático dominado por poucos canais, detidos por ainda menos empresas, e uma sociedade civil que se faz ouvir mas a medo e sem espaço, parece que há um interesse em manter a representação social escassa e os debates fulanizados.

Perdem as ideias e a possibilidade de termos um parlamento diverso, capaz de aportar mais temas para debate e gerar um maior interesse na política, alternativo ao jogo entre centro-esquerda e centro-direita que tem marcado a história da democracia portuguesa.

Para se ter uma ideia concreta e se desfazer o mito de que é por sermos um país pequeno, comparemo-nos com o exemplo dinamarquês. Se em Portugal entre 230 deputados estão representados apenas 6 partidos, na Dinamarca onde o número de deputados é de apenas 175, estão sentados 9 + 4 (da Gronelândia e Ilhas Faroé)

A pouco menos de um mês das eleições legislativas é gritante que Portugal precisa de trabalhar a literacia política entre as mais diversas classes, incentivar a participação cívica e promover alguma agitação no sector social. Seria importante ouvir aqueles que, ao contrário dos já eleitos deputados, não tiveram o privilégio de representar o país na casa da democracia; entender o exercício democrático a partir da necessidade de consensos construtivos onde a inovação, mesmo ao nível das ideias, deve ser creditada; e sobretudo, perdermos esta mania de só priorizarmos a política e o debate sobre o que deve ser o futuro do país em vésperas de eleições.

No Shifter não faremos uma cobertura exaustiva das eleições, nem teremos um calendário especial e dedicado ao acontecimento. Contudo, tentaremos a pretexto das eleições conhecer um pouco melhor o tecido social português, as suas particularidades e peculiaridades na relação com o processo legislativo, fazendo do dia 6 de Outubro um ponto de inflexão para 4 anos em que se preparam as eleições seguintes.

 

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  • João Gabriel Ribeiro

    O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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