Os iPhones lançados nos últimos três anos ganharam, de repente, um novo botão. Como naturalmente a Apple não consegue entrar na casa de todos os consumidores, a actualização foi feita por software. Isto significa que o botão sempre esteve lá mas desactivado.
Alterar as capacidades de hardware de um produto à distância por via de uma actualização de software não é algo invulgar – é algo que as fabricantes de automóveis já começaram a fazer. Mas as empresas conseguirem fazê-lo pode deixar-nos, no mínimo, intrigados – afinal, o iPhone 8 que comprámos em 2017 poderia, ao longo destes anos, fazer mais que aquilo que fez e o nosso investimento na altura do produto não foi totalmente valorizado. Por outro lado, podemos ficar satisfeitos por, ao fim de três anos, um equipamento a caminho do seu fim de vida (ditado pelo mercado à procura de vender novos telemóveis) ganhar uma novidade de que não estávamos à espera.
Afinal, que botão novo é este? Fica na traseira de todos os iPhones mais recentes – a partir do modelo 8 – e chama-se Back Tap; através das definições de acessibilidade do iPhone é possível activar a funcionalidade e com a ajuda da aplicação Shortcuts podes configurá-la ao teu gosto. Isso significa que a Apple não decidiu limitar a utilidade deste novo canal de input, permitindo a configuração preferida dos utilizadores. O Back Tap pode ser configurado para dois ou três toques na traseira do equipamento e servir, por exemplo, para fazer uma captura de ecrã, abrir o Centro de Controlo ou fazer uma pesquisa. Podes configurar uma acção para os dois toques na parte de trás do iPhone e outra para os três toques.
O Back Tap estava no iPhone desde 2017, é um botão invisível ao nosso olhar porque reside no interior do equipamento e, assim de um momento para o outro, passou a existir através de software – mais concretamente através da actualização para o iOS 14. Dá para pensar se não existirão ou não terão existido outras funcionalidades no iPhone desde sempre que nunca chegaram a ser activas. É pertinente também questionar este ponto: e se a Apple permitisse a personalização de outros botões do iPhone – por exemplo, que aquele botão lateral pudesse abrir o MB Way em vez do Apple Pay ou o Google Assistant em vez da Siri?
Por outras palavras, existem limitações do próprio hardware mas também condicionamentos ao nível do software e, no caso da Apple, que desenvolve os dois em conjunto e não gosta que se mexa no segundo, a empresa acaba por ter mais controlo sob a forma como os utilizadores usam o hardware. Outra interrogação interessante prende-se com limitações evidentes que são impostas ao hardware para que os consumidores adquiram um novo produto ou o modelo mais caro; falámos disso há bem pouco tempo, a propósito de funcionalidades que existem na família iPhone 12 Pro e não nos iPhone 12 ou que poderiam ser introduzidas em modelos anteriores por se basearem só em software.