O que precisas de saber sobre o 5G. O que é? É perigoso?

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Ilustração de João Ribeiro/Shifter

O que precisas de saber sobre o 5G. O que é? É perigoso?

Prometem que o 5G é o futuro. Mas há demasiados interesses envolvidos e como em tudo o que envolve dinheiro, pouca transparência e imparcialidade por parte de quem está no poder. Pelo menos da maioria.

Cada vez mais próxima de ser introduzida nas nossas vidas, a quinta geração das redes móveis tem estado na ordem do dia. Uns defendem interesses geopolíticos, outros económicos e até há quem fale de saúde. Mas, afinal, o que é o 5G? O que vai mudar nas nossas vidas?

Está a ser desenvolvida um pouco por todo o mundo mas é a China quem está à frente nesta corrida, apresentando-se a Huawei como estando pronta para começar a sua instalação a preços reduzidos. O 5G promete trazer até nós velocidades até 100 vezes superiores, torres com capacidade de suportar 100 vezes mais dispositivos e uma latência (tempo de resposta) 50 vezes inferior à do 4G. A velocidade passa de 1 Gb/s para um máximo de 20 Gb/s e a latência desce de 50-70 para 1 milissegundo.

Trocando por miúdos, passaremos a descarregar um filme em 25 segundos em vez de 30 minutos, deixarão de haver congestionamentos na rede em grandes aglomerados e a reduzida latência vai permitir por fim que carros totalmente autónomos se tornem uma realidade a sério – a garantia de uma conexão rápida e estável é essencial para o funcionamento pleno e em massa desses veículos.

Está mais do que visto que as suas características prometem revolucionar o mundo digital em que vivemos, criando uma rede com mais capacidade e respondendo assim às necessidades da chamada “internet das coisas” que está a começar a lotar as redes de que dispomos.

Como vai ser o 5G na prática?

A instalação das redes 5G é bem mais complicada do que parece. As suas ondas electromagnéticas têm um comprimento menor e como consequência bastante mais dificuldade em atravessar objectos como árvores ou paredes. Por este motivo, a sua instalação não se pode resumir a colocar algumas antenas para cobrir vários quilómetros quadrados, mas sim a ter antenas a cada 250 metros. Abrangendo menos área, são naturalmente mais pequenas e poderão ser instaladas em todo o tipo de mobiliário urbano e edifícios, como candeeiros de iluminação pública.

Para saberes mais sobre as infraestruturas envolvidas, aconselhamos a leitura do artigo do jornal online da associação de engenharia IEEE: “Everything You Need to Know About 5G”.

Tantas antenas não vão trazer mais radiação para as nossas ruas?

É verdade. E já há Governos que se manifestaram contra a instalação das redes 5G por este motivo. Na Bélgica, a Ministra do Ambiente Céline Fremault cancelou os projectos que tornariam Bruxelas na primeira cidade a ter esta tecnologia em 2020, alegando que as radiações emitidas ultrapassam os limites legais no país, que são de seis volts por metro.

Foto de Markus Spiske via Unsplash

Embora este limite seja 50 vezes inferior ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde, a Ministra recusa-se a aceitar os 14,5 volts anunciados pelo sector a curto prazo, dizendo, em entrevista ao jornal belga L’Echo que “o povo de Bruxelas não é rato de laboratório cuja saúde eu posso vender à custa do lucro”.

Na área da saúde, existe ainda uma petição internacional criada por médicos, cientistas e ambientalistas de todo o mundo, que pode ser assinada por todos no site 5gspaceappeal.org.

E a segurança?

Contrariamente às tecnologias desenvolvidas no passado, quando não se ouviam falar de ciberataques, as de hoje devem tê-lo em conta. No entanto, segundo o ex-presidente da Comissão Federal das Comunicações norte-americano (FCC), isto não está a ser feito. Num artigo de opinião publicado no New York Times, Tom Wheeler diz que pouco depois de ter tomado posse, Donald Trump removeu um requisito imposto pela https://staging2.shifter.pt/wp-content/uploads/2021/02/e03c1f45-47ae-3e75-8ad9-75c08c1d37ee.jpgistração de Barack Obama que decretava que as redes 5G deviam de ser projectadas para resistir a ataques cibernético desde o início.

Mas não deixa de ser por isso que os Estados Unidos não demonstram as suas preocupações em relação à vulnerabilidade destas redes. Principalmente das que são fornecidas pela companhia chinesa, Huawei.

A excelência chinesa

O título desta secção é uma das possíveis traduções para o nome da marca que está hoje em segundo lugar na lista dos maiores vendedores de smartphones, a Huawei. Começou por copiar a tecnologia americana, mas a abertura de centros de investigação e as parcerias realizadas com universidades em todo o mundo levaram a que rapidamente não só chegasse ao nível da concorrência, como a ultrapassasse.

Foto de Tinh Khuong via Unsplash

O 5G é prova disso e pode ser um problema para muitas economias mundiais, como é a dos Estados Unidos. As próximas linhas deste artigo vão ter por base o artigo “In 5G Race With China, U.S. Pushes Allies to Fight Huawei”, publicado pelo New York Times.

Os norte-americanos têm acusado a tecnológica de espionagem para o Governo chinês, alegando investigações secretas das quais pouco ou nada se sabe. Há quem diga que as provas existem, outros que se trata apenas de uma preocupação da Casa Branca com a ascensão abrupta e com as leis do país onde foi fundada.

Certo é que estão determinados a bani-la dos mercados mundiais e têm feito pressão juntos dos aliados, dizendo que não podem partilhar informação com países que têm estruturas de informação vulneráveis e até que as tropas americanas não estão seguras em países com redes comprometidas – neste caso num apelo directo à Polónia.

É assim tão perigoso entregarmos o 5G à Huawei?

Qualquer empresa responsável pela instalação das redes 5G não está apenas responsável por colocar as antenas. Por trás desta infraestrutura física tem de existir software, que por ser bastante recente está sujeito a constantes actualizações, tornando-se difícil monitorizar continuamente a possibilidade de espionagem.

E talvez os argumentos usados contra a tecnológica chinesa não sejam assim tão descabidos. Em 2017 foi aprovada uma lei que dá poder ao Governo chinês em nome da segurança nacional de aceder aos registos e até mesmo eventualmente assumir o controlo de empresas sediadas neste país.

Há ainda um estudo recente publicado pelos professores Donald Clarke e Christopher Balding – respectivamente das universidades George Washington, nos Estados Unidos, e Fulbright, no Vietnam – que levanta a possibilidade de a Huawei ser detida em parte pelo Governo chinês.

Por último, mas não menos importante, é de notar que a Vodafone encontrou falhas de segurança nos routers fornecidos pela marca entre 2009 e 2011, que permitiam o acesso aos computadores a estes conectados.

Foto de Kevin Horvat via Unsplash

Há alternativas?

Sim. No mercado das telecomunicações há mais duas grandes marcas: a Nokia (Finlandesa) e a Ericsson (Sueca). O problema é que parte da rede 4G atualmente existente na Europa — por exemplo em Espanha e na Alemanha — foi montada pela Huawei e, como na fase inicial a quinta geração vai recorrer à estrutura da antecessora rede 4G, trabalhar com um novo fornecedor pode levar a atrasos de dois anos, segundo as palavras de Miguel Almeida, presidente da NOS, e de Nick Read, CEO do grupo Vodafone.

Em que ficamos?

Como podemos ver até aqui, a quinta geração das telecomunicações ainda vai dar muito que falar. Vemos alguns preocupados com a saúde, mais ainda com a segurança nacional (que talvez não sejam mais do que interesses económicos).

Afinal, e segundo documentos revelados por Snowden em 2014, os serviços secretos norte-americanos entraram na sede da Huawei não só para estudar a tecnologia a ser desenvolvida por esta, mas também para procurar falhas que permitissem aceder às redes dos países adversários que instalaram tecnologia da marca chinesa.

Há demasiados interesses envolvidos e como em tudo o que envolve dinheiro, pouca transparência e imparcialidade por parte de quem está no poder. Pelo menos da maioria.

Levantam-se agora muitas questões: estará esta tecnologia tão recente pronta para ser instalada nas nossas cidades? Existem estudos suficientes para comprovar que o aumento considerável de radiação que esta nos vai trazer não será nocivo a longo prazo? Precisamos assim tanto de uma internet móvel ultra rápida?

Parecem existir ainda muitas arestas para limar. Vivemos num mundo onde um medicamento precisa de anos para poder ser vendido e qualquer avanço tecnológico é posto no mercado mesmo antes de estar aperfeiçoado. A que preço?

Texto de Gonçalo Matos

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