As primeiras descobertas de 2019. Eis as pepitas do Festival de Cannes

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As primeiras descobertas de 2019. Eis as pepitas do Festival de Cannes

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Deixamos a equipa de tramas em concurso de lado por um tempo e concentrarmo-nos no que vem de outras latitudes.

Em dia de Almodóvar na Croisette, e não de um Almodóvar qualquer: a Cahiers du Cinéma dá um espaço apaixonado ao devastador Dolor y Gloria na sua edição deste mês, acreditando que o cineasta espanhol enfim possa ser reconhecido com a Palma de Ouro que tanto merece com a história do ocaso (e posterior redenção) de um cineasta (Antonio Banderas) cansado da vida, agrilhoado à solidão.

Na luta por prémios, na competição oficial, este “almodrama” vem com força para ganhar, tendo que fintar o “queridinho da crítica” até agora, Os Miseráveis, de Ladj Ly. Ele e Mati Diop, realizadora do belíssimo Atlantique (na imagem acima), são os únicos cineastas negros na disputa e ambos trouxeram longas-metragens requintadíssimas para o certame. Mas como há já uma considerável quilometragem de filmes provocantes acumulados nas seções paralelas nos quatro dias que o festival já contabiliza, pode ser curioso deixar a equipa de tramas em concurso de lado por um tempo e nos concentrarmos no que vem de outras latitudes. Eis o cardápio:

Canción sin nombre, de Melina León (Perú)

Baseado em factos reais, esta trama em P&B aborda a luta de uma jovem peruana dos anos 1980 para reaver sua bebé recém-nascida com a ajuda de um jornalista. O seu principal apelo: a fotografia de Inti Briones, que diluiu todas as referências banais da representação do seu país no grande ecrã.

Onde? Quinzena dos Realizadores.

Zombie Child, de Bertrand Bonello (França)

Espécie de Carrie misturado com docs do Arte sobre macumba, o novo filme do realizador de Nocturama (2017) traça dois tempos (os anos 1960 e a atualidade) e dois espaços (o Haiti e a classe média francesa) a partir de um grupo de adolescentes que montam uma sororidade de estudos literários e têm contato com os mistérios ocultos de um ritual de zombificação usado em trabalhos servis na América Central. Uma das estudantes pede a uma imigrante haitiana que exorcize os seus males de amor por um namorado, o que deflagra um processo de assombro. A filmagem dos rituais de sincretismo afro ultrapassam os males da alteridade.

Onde? Quinzena dos Realizadores.

The orphanage, de Shahrbanoo Sadat (Afeganistão)

A realizadora do ótimo Wolf and sheep (2016) volta ao grande ecrã para narrar a luta de um órfão, fã de musicais de Bollywood, na Cabul dos anos 1980. A ida dele para um abrigo soviético é cercada de dor.

Onde? Quinzena dos Realizadores.

 

J’ai perdu mon corps, de Jérémy Clapin (França)

A protagonista desta animação é uma… mão. Uma mãozinha que corre pelas ruas de Paris à cata do rapaz cujo corpo ela integrava.

Onde? Semana da Crítica.

 

 

Beanpole, de Kantemir Balagov (Rússia)

Nos escombros da II Guerra Mundial, em solo soviético, duas mulheres procuram reinventar as suas vidas e buscar um sentido para explicar a tragédia que se abateu sobre elas. Montagem impecável.

Onde? Un Certain Regard (Um Certo Olhar).

 

Litigante, de Franco Lolli (Colômbia)

Em fase de ascensão na Pangeia latina, o cinema colombiano marcou um golaço em Cannes com este belo tratado acerca da emancipação feminina, centrada nas múltiplas tarefas de uma advogada numa rotina de mil cansaços cotidianos.

Onde? Semana da Crítica.

Rocketman, de Dexter Fletcher (Reino Unido/ EUA)

E, embora pareça uma opção manjada, diante do investimento milionário da Paramount, vale destacar Rocketman, de Dexter Fletcher. Na quinta-feira, sir Elton John foi à Croisette para assistir a antestreia mundial de Rocketman. Filmado por Dexter Fletcher, a longa-metragem, que estreia no final do mês, é uma cinebiografia do músico, nos moldes do fenómeno popular Bohemian Rhapsody, sobre Freddie Mercury, que custou 54 milhões de dólares (€49M) e faturou cerca de 900 milhões (€805M), além de conquistar quatro Oscars. Há um desejo por um destino similar para a produção de 40 milhões de dólares que põe o britânico Taron Egerton (herói da franquia Kingsman) num desempenho luminoso na pele de Reginald Kenneth Dwight, o nome verdadeiro de Elton.

Onde? Hors-Concours (Fora de Competição).

 

Texto de Rodrigo Fonseca, em Cannes

(Nota: este texto foi originalmente publicado no c7nema, um dos mais antigos sites de informação, opinião e crítica de cinema em Portugal, tendo sido aqui reproduzido com a devida autorização.)

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