Mulatu Astatke: a lenda viva do Ethio-Jazz passou por Portugal

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Photo: Tore Sætre / Wikimedia

Mulatu Astatke: a lenda viva do Ethio-Jazz passou por Portugal

Munido de músicos fantásticos com uma técnica de excelência, Mulatu Astatke apresentou, no Capitólio, o melhor do que o Ethio-Jazz tem a oferecer.

Falar de Mulatu Astatke é falar de um dos maiores nomes do Jazz africano. Com 75 anos feitos há poucas semanas apresenta um currículo vasto; tendo estudado em Nova York e Boston dedicou-se ao vibrafone, tornando-se um dos nomes maiores nesse instrumento a nível mundial. Trabalhou com nomes sonantes da música africana, como Fela Kuti, e também com grandes artistas de Jazz, sendo Duke Ellington um dos nomes em maior destaque.

Foi com esta expectativa que entramos no Capitólio, espaço reaberto há menos de dois anos. Chegando ao Parque Mayer percebemos que a afluência a este concerto é grande com muita gente há espera que as portas abram. Praticamente sala cheia para ver um dos músicos de maior nome da Etiópia. Entre um pouco de fumo a sair de uma máquina e as luzes em intensidade decrescente surgiram os músicos e, por fim, Mulatu, uma espécie de maestro. Começou por dirigir umas palavras ao público numa voz rouca passando de imediato para um arranjo jazzístico de música tradicional etíope feito por si. A vertente latina é outra das suas grandes influências e, com ajuda de ritmo africano, isso nota-se nos arranjos ao dar-nos vontade de dançar o espetáculo inteiro.

Entre os arranjos da sua autoria e composições próprias há espaço para os músicos improvisarem. Começando pelo próprio, no vibrafone em que cada silêncio é pensado, sem se aventurar por técnicas de mera velocidade, mas empenhado em construir um discurso melódico com o seu instrumento mostrando uma intimidade com o mesmo. Passando pelo saxofonista de grande virtuosismo, a puxar uma sonoridade de Jazz bebop, e pelo o trompete com solos suaves, bem medidos e apaixonantes. Pelo pianista, calmo, com cada nota ponderada, no sítio certo, a fazer lembrar Bill Evans e pelo violoncelista arrojado com alta técnica de “Pizzicato” a solar brilhantemente. Acabando no contrabaixista e no baterista responsável por manter sempre a banda em síncrono com uma sensação de ritmo brilhante. No final ainda houve tempo para um momento a solo do percussionista a fazer-nos viajar até à Etiópia com uma canção tradicional ao som de um ritmo que nos fez entrar em transe como se tivéssemos acabado de aterrar numa aldeia tradicional etíope.

Um concerto com uma energia incrível e de uma qualidade musical de topo. Ao Capitólio só pedimos que venham mais sessões destas e mostramo-nos ansiosos pelo concerto da estrela em ascensão do Jazz moderno, Jacob Collier.

Texto de Joaquim Ribeiro

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